sábado, 2 de abril de 2011

A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA NA CONSTRUÇÃO DA SEXUALICADE INFANTIL, DA ERÓTICA E DA PEDOFILIA.

A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA NA CONSTRUÇÃO DA SEXUALICADE INFANTIL, DA ERÓTICA E DA PEDOFILIA.

* Por Marina de Oliveira

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo questionar a influência dos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão e a internet, na construção da sexualidade infantil, colocando em voga a erotização dos corpos infantis e as ocorrências de pedofilia.

Palavras chaves: Meios de comunicação de massa, Sexualidade Infantil, Erótica Infantil e Pedofilia.

Até o século XVIII as crianças eram tidas como adultas em miniatura. Não havia distinção entre as práticas, os comportamentos, conversas, etc. quanto à sexualidade, as crianças vivenciavam- as desde muito cedo, a cultura da sociedade na época aceitava e incentivava tais praticas. Ainda hoje, algumas sociedades têm a cultura de aceitar e incentivar a relação sexual de crianças e adolescentes com homens mais velhos.

Após a criação do conceito de infância, a criança passa a ter característica e cuidados próprios, o que proporciona olhar a criança como um ser ingênuo, inocente, indefeso, e equivocadamente como um ser dessexualizado, que precisa ter seu corpo “adestrado” a comportamentos tidos como “certos”, levando ao enrijecimento dos corpos.

Em pleno século XXI percebemos drásticas mudanças no mundo infantil, e isto se deve as mudanças ocorridas na sociedade, uma vez que somos constituídos, construídos socialmente, culturalmente e historicamente. Ao considerarmos sujeitos sócio-histórico-cultural, o presente artigo tem por finalidade problematizar a influencia dos meios de comunicação de massa na construção da sexualidade infantil, destacando a erotização dos corpos infantis
e a crescente ocorrência da pedofilia nos dias atuais a partir do conceito de “pedofilização” da sociedade.

Primeiramente, é importante deixar claro que toda criança é um ser corpóreo, e não esta inato de sensações como o prazer, assim, toda criança é um ser sexual. Segundo Freud, a sexualidade infantil inicia ao 0 e 1 ano, na fase oral, passa pelas fases, anal ( 2 a 4 anos), fálica ( 4 a 6 anos), latência ( 6 a 11 anos) ate chegar a fase genital, que ocorre a partir dos 11 anos.

A sexualidade infantil é construída e se desenvolve nas relações do sujeito com o seu meio, mediante a cultura da sociedade da época. Com as crescentes correntes de informação veiculadas nos meios de comunicação de massa, o corpo infantil é aos poucos constituído nos moldes padronizados, ou seja, os meios de comunicação, televisão, internet, revistas, entre outros, são formas pedagógicas que educam os sujeitos na construção seu do corpo e da sexualidade.

Sendo a comunicação de massa uma forma pedagógica de educar, ela assume um papel importante no processo de construção dos sujeitos, porém o que temos observado é que se tem colocado os corpos de crianças como objetos a ser desejado, evidenciando a sensualidade nata do ser humano como algo a despertar o libido do consumidor. A mídia ao erotizar a imagem da criança influencia diretamente na construção da identidade das mesmas.

Como agravante desde processo temos como um dos maiores consumidores as crianças, que além de serem utilizadas como objeto de publicidade, têm sido alvo de produtividade, já que há uma crescente produção voltado para elas, como filmes, revistas, desenhos animados,etc. As novelas também não fogem do olhar e atenção das crianças, a maioria do publico infantil assiste-as. A questão é que a maioria destes produtos traz conteúdos erotizados que ajuda na construção da identidade ao ditar padrões de beleza, estética, corpo, comportamentos, além de introduzir informações do mundo adulto, como as relações sexuais.
Percebemos então que, a comunicação de massa que deveria auxiliar na construção dos sujeitos tem influenciado na construção de uma “pedofilização” da sociedade sobre a infância e conseqüentemente, sobre a criança. Tatiana Landini (2000:29) nos chama atenção

ao fato de haver uma ‘erótica infantil’, isto é uma erotização da imagem da criança amplamente veiculada pela mídia.”Não é difícil encontrar propagandas e anúncios onde a criança é mostrada em pose sensual ou em contexto de sedução.”

A partir disso, é questionador o fato de uma mesma sociedade que produz tais conteúdos, que erotiza a criança e a infância, que muitas vezes aceita sem problematizar os conteúdos de conotação sexual veiculados nos produtos pelas crianças propagadas e consumidas, tratar como absurdo a relação sexual, ou o envolvimento de um adulto com uma criança.

Nos últimos meses são crescentes os noticiários sobre as ocorrências de pedofilia, aqui entendida como um “desejo forte e repetido de praticas sexuais e de fantasias sexuais com crianças pré – púberes” ( Ferreira.1999), estendendo á praticas de contemplação de fotos sensuais até a ocorrência efetiva do abuso sexual. E juntamente com tais ocorrências são crescentes também as formas de seduzir o adulto á criança, e não é difícil encontrar meios de sedução existentes na sociedade por meio dos meios de comunicações, basta analisarmos os conteúdos de filmes, novelas, literaturas, internet que trazem este tipo de relação e acabam por ser um dos maiores incentivadores ou despertadores de desejos.

Então, como entender a ocorrência da pedofilia numa sociedade que propaga meios de sedução pela criança, para a criança e á criança? Guacira Louro afirma:
“a escolha do objeto sexual também se constrói, socialmente, pois, segundo ela, a ‘ direção do interesse erótico’ seria construída a partir das muitas possibilidades de vivencia da sexualidade, na dependência das historias pessoais e subjetivas, dos significados culturalmente atribuídos a essas possibilidades” (LOURO, 2000:65-66)


Não podemos esquecer que a criança é um ser sexual, que sente prazer, e uma vez inserido no contexto “sexualista” também é despertado para a vida sexual. Portanto, não é apenas o adulto que esta sendo seduzido, mas as crianças também estão sendo, além de construídas neste contexto, estão sendo seduzidas pelos produtos veiculados, e como seres sexuais que são, podem iniciar uma vida sexual, de inicio pela imitação, mas se há a prorrogação dos atos é porque a criança, independentemente da idade foi seduzida á pratica(s) e na experimentação, sentiu prazer e conseqüentemente vai buscar satisfazê-lo.

Com toda a problemática discutida a respeito da influência dos meios de comunicação de massa na construção da sexualidade infantil, ao destacar a erotização dos corpos infantis e a pedofilia, não é minha pretensão justificar erros ou encontrar culpados, mas sim, problematizar. Para tanto, finalizo este artigo com algumas implicações:

Cientes do papel formador dos meios de comunicação de massa, em especial a televisão e a internet, para a construção do sujeito quanto corpo, gênero e sexualidade, como minimizar ou colocar um fim em propagandas que erotizam as crianças, e ainda ditam normas e padrões de beleza, corpo e comportamento a serem seguidos?


Em meio a uma “pedofilização” da sociedade, como lidar com a pedofilia, onde imagens erotizadas dos corpos infantis são veiculadas nos meios de comunicação de massa, sendo meio de sedução tanto para adultos como para as crianças? Se estes meios são formas pedagógicas, que educam os sujeitos e agem na construção dos corpos, da identidade e da sexualidade, não seria uma boa hora de problematizar tais conteúdos, rever conceitos e promover mudanças?

Ou vamos optar por continuar sendo telespectadores da propagação de conteúdos eróticos infantis, que faz da criança um objeto de consumo, de marketing, de propaganda, e que faz da mesma, um consumidor de tais
produtos, os levando a ter acesso às informações e telespectadores das ocorrências de pedofilia sem ao menos tentar promover mudanças a respeito de toda a problemática discutida?

Pensemos então a criança e sua identidade, aqui entendida como corpo, gênero e sexualidade, a fim de intervir na sociedade onde é crescente a erótica infantil, a pedofilia, os abusos e exploração sexual. Cada criança tem o direito de se descobrir sexualmente, sem ser alvo de abusos sexuais, e/ou qualquer outro tipo de violência que venha a denegri-la.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FELIPE, J. Erotização dos corpos infantis. IN: LOURO, G L. Currículo, gênero e sexualidade: o “normal”, o “diferente” e o “excêntrico”. IN: LOURO, G L.; FELIPE, J; GOELLNER, S V. (Org.) Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2º Ed. 2005, p.53-65.

FIGUEIRA, M. L. M. A revista Capricho e a produção de corpos adolescentes femininos. IN: LOURO, G L. Currículo, gênero e sexualidade: o “normal”, o “diferente” e o “excêntrico”. IN: LOURO, G L.; FELIPE, J; GOELLNER, S V. (Org.) Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2º Ed. 2005, p124-135.

RAEL, C.C. Gênero e Sexualidade nos desenhos da Disney. IN: LOURO, G L. Currículo, gênero e sexualidade: o “normal”, o “diferente” e o “excêntrico”. IN: LOURO, G L.; FELIPE, J; GOELLNER, S V. (Org.) Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2º Ed. 2005, p. 165-171.

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